14.11.06

Novo Artigo Jornal da Manhã - Publicado em 12/11/2006

A HISTÓRIA LOCAL E SUAS POSSIBILIDADES DE INVESTIGAÇÃO HISTORIOGRÁFICA

Acreditou-se, durante um bom tempo, que escrever a história era descrever os eventos vividos pelo homem sempre apoiado em interpretações generalizantes, nas quais somente as “grandes questões” tinham espaço.

A partir do momento que as análises globalizantes não deram conta de explicar os problemas do homem anônimo, paradigmas historiográficos começaram a ser questionados: novas fontes, em especial, as orais, passaram a ser incorporadas ao rol de investigação do historiador; novas perguntas foram feitas a essas fontes; uma atitude irremediável de associação com outras ciências humanas, sobretudo a antropologia e a sociologia, visando não a uma explicação cabal, e sim a uma maior compreensão do nosso objeto de investigação. E foi, a partir daí, que os contornos mais sutis passaram a também ser considerados oficio do historiador.

Mas ter seu ofício reconhecido não resolve os problema do historiador do local. Ao contrário, aqui eles começam. É preciso, agora, que o historiador sustente suas afirmações, dê consistência a suas análises. Em outras palavras, é preciso que o historiador pergunte por onde anda a legitimidade do seu ofício; é preciso que se questionem as possibilidades de uma investigação historiográfica em que o local passa a ser o cenário da história.

E, para responder a essas indagações, o historiador do local deve ter clareza das suas prerrogativas metodológicas. Afirmando com o professor Agnaldo de Souza Barbosa: “o principal desafio metodológico para a história local é o problema da relação tempo-história que precisa, pelos historiadores, ser revista”. A história generalizante trabalha com a noção de tempo uniforme, comum a todos os espaços, uma espécie de superestrutura da história global. À história local importa a apreensão do tempo dos lugares, o tempo realmente vivido por cada localidade, composto por um amálgama de experiências distintas dos pólos hegemônicos num mesmo momento histórico.

Mas é preciso também ter em mente que tentar ver nas partes somente uma micro-reprodução do todo é não entender, de fato, o que acontece tanto na parte como no todo. É homogeneizar relações não homogêneas. Por isso podemos dizer que o grande avanço da história local é a busca das singularidades, diversidade na história e, sobretudo, o respeito aos detalhes.

Uma outra discussão muito salutar ao historiador do local é a própria definição do que é local. Muitas críticas já nos foram feitas, sobretudo aos historiadores que tomam como medida do espaço local a geografia política, quando definimos o espaço local apenas como sendo a cidade, o município, o estado da federação, etc.

No lugar dessa definição meramente geográfica, preferimos uma delimitação dos recortes espaciais que levem em conta a historicidade dos espaços. Assim, preferimos a definição do que é local dependente das relações que determinada região mantém com as outras em diferentes momentos históricos.

Uma última reflexão: o objetivo central, ao menos no nosso entender, da história local é fornecer elementos que não podemos deixar de levar em conta quando tentamos compreender as diversas variáveis que constituem o sistema global de interpretações históricas, dando-nos elementos para que tenhamos condições de criticar as grandes generalizações de nossa história.
A consideração acima se faz necessária na medida que alguns dos historiadores que se ocupam da história local ainda o fazem tendo em mente a idéia equivocada de construção de uma história nacional a partir do somatório das diversas histórias locais.

Diante do que foi exposto, fica claro que as possibilidades de uma investigação historiográfica partindo da prática de uma história local são perfeitamente possíveis. No entanto, toda vigilância é necessária para que não façamos dessa nova escrita da história uma babel onde tudo caiba, correndo o risco de perder sua finalidade.

3 comentários:

  1. Anônimo19:30:00

    Arrasou com o blog em Mozart?!?!

    mass.. como eu disse:
    _o que podemos fazer já que nascemos assim neh?

    uahuhauhauhauhauhauhauah

    beejos
    ;]]

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  2. Nascemos assim como, Giovanna? Obrigado pela visita. Abraços, Mozart

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  3. Anônimo15:42:00

    Mozart Lacerda Filho é Psicólogo e Historiador pela Universidade de Uberaba, Especialista em História da Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia, Mestre em História e Cultura Política pela Unesp de Franca !!

    Que isso em Mozart! parabens... adoro suas aulas e o admiro muito como pessoa...

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