27.8.06

Mais Detalhes do Lugar


No último dia 15, tivemos as comemorações do dia da Padroeira da cidade, Nossa Senhora da Abadia. Milhares de romeiros e devotos se reuniram para homenagear a santa. O Seu Santuario foi fundado em 1884 próximo a uma fonte considerada miligrosa. A imagem da santa pode ser vista de vários pontos da cidade, sobretudo a noite, quando uma luz azulada a envolve, destacando seus contornos. O bairro da Abadia é o maior bairro da cidade, onde destaca-se o seu intenso comércio. A quem diga que o bairro da Abadia até parece outra cidade.

26.8.06

Artigo Jornal da Manhã 25/08/2006

Amigos, o artigo abaixo é uma espécie de homenagem a Célia Garcia Macedo Lacerda, a d. Célia. Ela era mãe de Gildo Macedo Lacerda, mineiro de Ituitaba - mas que morou em Uberaba, onde começou sua militância política. Gildo, e sua participação no Movimento Estudantil (mineiro e nacional), é o porsonagem central de minha dissertação de mestrado. Já publiquei um pequeno texto tratando da sua biografia. Para quem se interessar, visite o seguinte link: http://www.urutagua.uem.br/005/13his_lacerdaf.htm. Vamos ao artigo, então.
CHORAM CÉLIAS E ZUZUS NO SOLO DO BRASIL


O filme Zuzu Angel, de Sergio Rezende, conta a vida da estilista e figurinista Zuleika Angel Jones, nascida em Curvelo, Minas Gerais. Ela era mãe de Stuart Edgar Angel Jones, estudante que foi morto pelas forças de repressão da ditadura militar em 1971. Zuzu Angel nunca pôde enterrar o corpo do filho morto, uma vez que ele fora jogado ao mar.
Célia Garcia Macedo Lacerda, mineira de Ituiutaba, mudou-se para Uberaba em 1963 e foram, ela, o marido e os três filhos, morarem na Praça Dr. Thomás Ulhôa, a Praça do Tênis. Além de serem mineiras, uma outra triste coincidência unem essas duas mulheres: assim como Zuzu Angel, dona Célia também não pôde enterrar seu filho, Gildo Macedo Lacerda, que também foi morto pela ditadura militar, no dia 28 de outubro de 1973, em Recife.
Ainda em Uberaba, Gildo ─ motivado por ideais estudantis de igualdade social, democracia para o povo brasileiro e um futuro de dignidade humana ─ entrou para o Movimento Estudantil secundarista e, em 1965, sua chapa ganha as eleições da União Estudantil Uberabense ─ UEU ─ para a gestão 65/66. Com sua ida para Belo Horizonte, em 1967, troca a militância estudantil secundarista pela militância universitária, então como membro da Ação Popular ─ AP ─, organização com raízes na esquerda católica e que contestava os abusos cometidos pelo regime militar implantado em abril de 1964, por força de um golpe civil-militar.
Em 1968, Gildo entrou para o curso de Ciências Econômicas da UFMG, tornou-se membro do Diretório Acadêmico dessa faculdade e foi designado para ir ao XXX Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes ─ UNE ─ em Ibiúna, estado de São Paulo. Como o Movimento Estudantil sofria forte repressão, o Congresso foi descoberto, os estudantes presos e Gildo foi, então, alvo de um Inquérito Policial Militar, o famigerado IPM.
Em 26 de fevereiro de 1969, o governo ditatorial baixou o Decreto-lei nº 477 que definia infrações disciplinares praticadas por estudantes, professores e funcionários de ensino público ou particular. Com essa medida, Gildo foi obrigado a entrar para a clandestinidade. Também em 1969, Gildo foi eleito vice-presidente da UNE e passou a integrar o núcleo central da AP.
Esta, por ser uma organização que buscava aproximar-se das massas populares a fim de conscientizá-las sobre os desmandos que ocorriam nos porões da ditadura, passou a ter seus membros ─ e as idéias divulgadas ─ vistos como obstáculos para as pretensões autoritárias do regime militar. Em função disso, o nome de Gildo passou a figurar, já em 1969, em uma lista de militantes ─ elaborada pelos serviços de informação ─ que deveriam ser presos, torturados e mortos.
A morte de Gildo Macedo Lacerda foi divulgada em 1º de novembro de 1973. Daí em diante, sua família empreendeu uma verdadeira batalha jurídica para reaver seu corpo e elucidar as verdadeiras causas de sua morte, uma vez que os órgãos de repressão montaram uma farsa para justificar seu assassinato. No entanto, os esforços foram em vão. Gildo foi enterrado como indigente no Cemitério da Várzea, em Recife, e em 1986 seus restos mortais foram encaminhados para uma vala comum no cemitério Parque das Flores, sem jamais chegar à sua família.
Célia Garcia Macedo Lacerda faleceu no dia 26 de fevereiro de 2005 sem poder dar um digno enterro a seu filho.

20.8.06

Detalhes do Lugar



Amigos,
Uma das principais mudanças obeservadas nas pessoas que começam a descobrir a riqueza do seu espaço local é o valor que elas passam a dar a detalhes de coisas bastante conhecidas, mas que antes não eram enxergadas. Como a história local parte de uma investigação em pequena escala sobre os eventos estudados, saber captar esses pequenos detalhes é muito importante. Diante disso, quero iniciar neste espaço uma discussão que objetiva aprimorar o modo como vemos nosso entorno e seus significativos detalhes. Trata-se de uma série de fotografias, tiradas por mim, de lugares que vamos todos os dias ou que, ao menos, conhecemos bem, mas que não prestamos a devida atenção. Vamos começar com uma fotografia do pôr do sol tirada da Avenida Nenê Sabino, próximo à Universidade de Uberaba. Usei uma máquina Pentax MZ-M, lente teleobjetiva, filme asa 400 e foquei o sol ao máximo, na tentativa de escurecer o primeiro plano realçando o tom alaranjado, que a luz do sol emite nestas horas. O efeito é esse que vemos na fotografia. Pois bem... detalhes como este do nosso espaço local está disponível a nós todos os dias. É só aprendermos a enxergá-los. Até a próxima.

15.8.06

Quem tem Medo da História Local?


Este artigo, publicado originalmente no Jornal da Manhã (edição de 13/08/2006), pretende ser o primeiro de uma série onde a História Local será tema de nossas reflexões. Estará presente neste espaço tanto exemplos vivos de História Local quanto discussões de cunho metodológico, onde abordaremos as possibilidades e os limites da História Local. A micro-história, outra corrente historiográfica, também aparecerá por aqui.


Recentemente o jornalista Juca Kfouri escreveu na Folha de S. Paulo (24/07/2006, p. D3) que, hoje em dia, assistir aos jogos dos campeonatos locais e torcer pelo nosso time do coração é “incomparavelmente mais gostoso” do que ver os jogos da Copa do Mundo e torcer pela seleção brasileira. Tanto concordo com ele que quando o intrépido esquadrão do Uberaba Sport Clube só empatou com Valério em casa e o Tupi venceu o Juventus ─ combinação de resultados que adiou os planos do colorado de retornar a elite do futebol mineiro em 2007 ─ fiquei muito mais aborrecido do que com o vexame do escrete canarinho em plagas alemãs. E se você também pensa assim, saiba que não há nada de errado conosco.

O que nos acomete é um processo de identificação muito mais focado no nosso espaço local do que em percepções generalistas e globalizantes. Dito de outra forma: o que acontece ao nosso redor nos é mais importante (ou pelo menos deveria ser) do que aquilo que acontece distante de nossa realidade. Segundo o professor Luiz Reznick, historiador da Universidade Federal Fluminense, “a contigüidade territorial, a proximidade espacial, as relações de vizinhança e cotidianidade estabelecem uma ética de pertencimento singular”. E essa sensação de pertencimento nos faz sentir seguros, uma vez que no espaço local as pessoas e as coisas me são familiares.

Quero aproveitar a idéia acima esboçada para discutir a importância, cada vez maior, do espaço local. Não só historiadores deram-se conta disso, mas sociólogos e antropólogos também. Aliás, a interdisciplinaridade é marca registrada da história local. Compreenderam, esses intelectuais, que por intermédio de pequenos recortes históricos, podem ser alcançados e identificados contextos mais amplos outrora incompreensíveis. Diminuindo-se a escala de abrangência do objeto estudado, podemos perceber detalhes que para um olhar mais apressado seria impossível perceber.

A forma como a história tradicional compreende os fenômenos históricos, torna-os distantes da vida das pessoas. Fala-se nos grandes homens, nos grandes heróis que no dia x do mês y do ano z fizeram e desfizeram coisas. Homens que agiram iluminados pela certeza de estarem fazendo o correto, que não tinham dúvidas, que nunca titubeavam. Faz-se assim uma história idealizada, alienante e distante da concretude da vida real. E é por isso que os alunos, muitas vezes, não gostam de estudar história. Que sentido há em se estudar algo que não me diz respeito?

Essa idealização, e conseqüente distanciamento das pessoas em relação aos processos históricos, é item a ser combatido na história local, para quem todo homem passa a ser agente da história. A história local se interessa pelas massas anônimas, por contar a história das pessoas simples e sua vida cotidiana. Entende a história local que essas pessoas simples e suas histórias igualmente simples também compõe o cenário daquilo que chamamos de história.

É preciso ressaltar que a história local não abandona as normas, a regra geral, circunscrevendo-se em si mesma. O que ela propõe é entender essas normas gerais a partir de análises particulares. O pesquisador do ambiente local, usando instrumentos adequados, sabe que é possível alcançar uma macro-história através de uma micro-história. O contrário nem sempre se dá.

Fernando Pessoa, na figura de Alberto Caeiro, dizia que “o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia”, por uma razão muito simples: “o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”.