26.8.06

Artigo Jornal da Manhã 25/08/2006

Amigos, o artigo abaixo é uma espécie de homenagem a Célia Garcia Macedo Lacerda, a d. Célia. Ela era mãe de Gildo Macedo Lacerda, mineiro de Ituitaba - mas que morou em Uberaba, onde começou sua militância política. Gildo, e sua participação no Movimento Estudantil (mineiro e nacional), é o porsonagem central de minha dissertação de mestrado. Já publiquei um pequeno texto tratando da sua biografia. Para quem se interessar, visite o seguinte link: http://www.urutagua.uem.br/005/13his_lacerdaf.htm. Vamos ao artigo, então.
CHORAM CÉLIAS E ZUZUS NO SOLO DO BRASIL


O filme Zuzu Angel, de Sergio Rezende, conta a vida da estilista e figurinista Zuleika Angel Jones, nascida em Curvelo, Minas Gerais. Ela era mãe de Stuart Edgar Angel Jones, estudante que foi morto pelas forças de repressão da ditadura militar em 1971. Zuzu Angel nunca pôde enterrar o corpo do filho morto, uma vez que ele fora jogado ao mar.
Célia Garcia Macedo Lacerda, mineira de Ituiutaba, mudou-se para Uberaba em 1963 e foram, ela, o marido e os três filhos, morarem na Praça Dr. Thomás Ulhôa, a Praça do Tênis. Além de serem mineiras, uma outra triste coincidência unem essas duas mulheres: assim como Zuzu Angel, dona Célia também não pôde enterrar seu filho, Gildo Macedo Lacerda, que também foi morto pela ditadura militar, no dia 28 de outubro de 1973, em Recife.
Ainda em Uberaba, Gildo ─ motivado por ideais estudantis de igualdade social, democracia para o povo brasileiro e um futuro de dignidade humana ─ entrou para o Movimento Estudantil secundarista e, em 1965, sua chapa ganha as eleições da União Estudantil Uberabense ─ UEU ─ para a gestão 65/66. Com sua ida para Belo Horizonte, em 1967, troca a militância estudantil secundarista pela militância universitária, então como membro da Ação Popular ─ AP ─, organização com raízes na esquerda católica e que contestava os abusos cometidos pelo regime militar implantado em abril de 1964, por força de um golpe civil-militar.
Em 1968, Gildo entrou para o curso de Ciências Econômicas da UFMG, tornou-se membro do Diretório Acadêmico dessa faculdade e foi designado para ir ao XXX Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes ─ UNE ─ em Ibiúna, estado de São Paulo. Como o Movimento Estudantil sofria forte repressão, o Congresso foi descoberto, os estudantes presos e Gildo foi, então, alvo de um Inquérito Policial Militar, o famigerado IPM.
Em 26 de fevereiro de 1969, o governo ditatorial baixou o Decreto-lei nº 477 que definia infrações disciplinares praticadas por estudantes, professores e funcionários de ensino público ou particular. Com essa medida, Gildo foi obrigado a entrar para a clandestinidade. Também em 1969, Gildo foi eleito vice-presidente da UNE e passou a integrar o núcleo central da AP.
Esta, por ser uma organização que buscava aproximar-se das massas populares a fim de conscientizá-las sobre os desmandos que ocorriam nos porões da ditadura, passou a ter seus membros ─ e as idéias divulgadas ─ vistos como obstáculos para as pretensões autoritárias do regime militar. Em função disso, o nome de Gildo passou a figurar, já em 1969, em uma lista de militantes ─ elaborada pelos serviços de informação ─ que deveriam ser presos, torturados e mortos.
A morte de Gildo Macedo Lacerda foi divulgada em 1º de novembro de 1973. Daí em diante, sua família empreendeu uma verdadeira batalha jurídica para reaver seu corpo e elucidar as verdadeiras causas de sua morte, uma vez que os órgãos de repressão montaram uma farsa para justificar seu assassinato. No entanto, os esforços foram em vão. Gildo foi enterrado como indigente no Cemitério da Várzea, em Recife, e em 1986 seus restos mortais foram encaminhados para uma vala comum no cemitério Parque das Flores, sem jamais chegar à sua família.
Célia Garcia Macedo Lacerda faleceu no dia 26 de fevereiro de 2005 sem poder dar um digno enterro a seu filho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário