17.1.07

Novo Artigo Jornal da Manhã 31/12/2007

PEDIDOS ANÔNIMOS

Quem tem acompanhado nossos artigos, publicados neste espaço, já deve ter percebido nossa predileção por uma História que contemple as massas anônimas, colocando-as como protagonistas dos eventos históricos. Temos procurado demonstrar que a história se passa ao nosso redor e somos, todos, parte dela. Pois bem. Hoje quero continuar falando de anônimos, de pedidos anônimos, para ser mais exato. Vejamos os relatos abaixo:

Relato 01: “Querido Papai Noel, tenho dezoito anos e estudei até a sétima série. Sou muito trabalhadeira. Gostaria que realizasse um sonho meu: queria ter um serviço fixo. Sei que sou muito grande para esse tipo de coisa [escrever ao Papai Noel], mas esse é o meu sonho. Preciso trabalhar e lutar para conseguir minha casa. Tenho dois filhos: um de quatro e outro de dois anos. Quero trabalhar para poder dar coisas boas para eles. Até hoje acredito em Papai-Noel e acho que todos deveriam acreditar”.

Relato 02: “Querido Papai Noel, tenho nove anos. Se você puder, eu quero ganhar a casa da Barbie. Meu pai é entregador de carnes e ele não pode me dar os brinquedos dos meus sonhos. Minha mãe não trabalha, ela é doente de uma doença que não tem cura. Eu tenho um irmão de sete anos e o sonho dele é ter uma bicicleta. Eu moro numa casa de fundo de três cômodos que meu pai aluga”.

Relato 03: “Querido Papai Noel, tenho sete anos. Eu queria muito um pedreiro para ajudar o meu pai acabar de arrumar a minha casa. O meu pai não sabe fazer casa e está demorando muito acabar de fazer”.

Relato 04: “Querido Papai Noel, estou te escrevendo porque gostaria de ganhar um par de patins. Sempre quis ter um, não importa o modelo. Meu pai não pode me dar, pois ele está desempregado e não tem condições agora. Tenho mais duas irmãs e fica difícil dar presentes para nós três. Um dia as coisas aqui em casa vai melhorar porque nós acreditamos muito em Deus. Tenho onze anos e te desejo toda felicidade do mundo”.

Estes relatos fizeram parte das quase duas mil cartas que foram enviadas, via Correios, ao bom velhinho, projeto intitulado “Papai Noel dos Correios”. Seus remetentes pertencem a um grupo que, certamente, não entrou em amigo-secreto e tampouco colocou presente embaixo da árvore.

A idéia dos Correios é bem simples, porém merece destaque: depois de anos recebendo cartas endereçadas ao Papai Noel, a empresa resolveu aproximar os milhares de remetentes às pessoas que, com certa dose de boa-vontade, pudessem, ao menos em parte, satisfazerem seus pedidos.
Em sua grande maioria, são pedidos simples de pessoas igualmente simples. E também pobres, muitas semi-analfabetas, mas que aproveitam a oportunidade para externar seus desejos e, sobretudo suas angústias: angústia com a casa pequena, que mal cabe a família; angústia por não ter o brinquedo dos sonhos; angústia por ter que criar dois filhos pequenos, mesmo estando desempregada; angústia por ver um pai inábil para as atividades de pedreiro, mas mesmo assim se dispondo a construir a tão sonhada casa própria, entre outros.

Aproveitam também, os destinatários para através dessas cartas, sentirem-se menos excluídos e abandonados. E aqueles que dão a sorte de encontrar alguém que lhes satisfaçam seus desejos, recebem, junto com o presente, a oportunidade de comemorar o natal de uma forma mais digna e humana. Dignidade é sentimento universal, desejado por todos e em todos os momentos, não somente em datas comemorativas.

Entretanto, nem todos fizeram pedidos; alguns aconselharam. Vejamos o relato 05: “Querido Papai Noel, tudo bem? Quero agradecer por sua atenção. E agradeço muito ao nosso bom Deus por tudo e por todas as bênçãos. Peço apenas que as pessoas coloquem em prática algumas virtudes: amor, fraternidade, humildade, sinceridade, compreensão, tolerância e desprendimento. Peço que transmita essas virtudes aos demais nossos irmãos e ensine como devemos colocar em prática”.

Aproveitemos o ano que se inicia para fazermos uma reflexão sobre esse conselho e o coloquemos em prática. Se não na sua totalidade, ao menos em parte. Feliz 2007.

Um comentário:

  1. Anônimo16:54:00

    Os correios prestam enorme serviço aos menos assistidos e parabéns ao autor pela coragem em publicar tais textos.

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