23.1.09

Novo Artigo 26/01/2007

CULTURA POLÍTICA


As últimas décadas do século XX foram de singular avanço no tocante à revitalização do campo das interpretações historiográficas, renovando um amplo e variado conjunto de análises históricas. Para além dos tradicionais paradigmas e modelos existentes, outras categorias são introduzidas e consideradas como de eficaz valor explicativo. No campo político, a principal inovação foi a revitalização da categoria de Cultura Política.

Esse novo vigor no conceito de cultura política muito devemos aos trabalhos de vários cientistas sociais – tais como Almond e Verba – onde a perspectiva comportamentalista é privilegiada.
No entanto, o modelo comportamentalista receberá várias críticas, sejam de cientistas sociais, sejam de historiadores. Gostaríamos de destacar a crítica elaborada pelo sociólogo francês Daniel Cefai, uma vez que seus apontamentos abrem uma nova dimensão na compreensão do conceito de cultura política Daniel Cefai amplia o arco de abrangência do conceito de Cultura Política à medida que paradigmas explicativos mais universais são relegados a um segundo plano. No seu lugar, ganham ênfase análises que reflitam contextos menores, que busquem compreender os fenômenos particulares, conseguindo, assim, melhor perceber as nuanças das tramas sociais e das formas culturais em geral.

Na visão do autor supracitado, perdem fôlego abordagens que defendem que as escolhas e os compromissos dos atores políticos devem-se, unicamente, a uma imposição de consenso através de códigos culturais. Aproxima-se, assim, Cefai da micro-história, que destaca em suas abordagens micro universos, nos quais cidadãos anônimos e comuns podem expressar seus estilos de vida, seus códigos de conduta, seus hábitos.

Assim, entendemos que o principal avanço trazido pelo conceito de cultura política é romper com qualquer interpretação essencialista acerca dos fenômenos sociais. A explicação do ato político, sendo um evento de grande complexidade, exige de seus decifradores mais do que conceitos generalistas, de feições comportamentais. É preciso um instrumental teórico que leve em conta as especificidades de seus atores e as singularidades das tramas por eles vividas.

Ao privilegiarmos as diferenças de pensamento, os valores e a prática dos diversos grupos que compõem as várias Culturas Políticas de uma dada sociedade, não estamos excluindo a possibilidade de formação de uma cultura política dominante frente às demais. As Culturas Políticas evoluem na história, determinadas por conjunturas históricas e por influência de outras culturas políticas.

Outra consideração que se faz necessária, diante do que foi exposto, diz respeito à não-unicidade das mensagens difundidas por uma dada Cultura Política. As mensagens resultam de uma gama muita ampla de fatores, que passa pela influência da família, da escola, dos grupos de convivência social, dos partidos políticos, da imprensa, etc.

Fatores esses que forjam nos atores políticos, múltiplas formas de abordagem da esfera política a que fazem parte. As vivências ─ praticadas ou idealizadas ─ por esses indivíduos levam em conta uma multiplicidade de questões que dão todo um colorido policromático as suas ações.

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